quarta-feira, 21 de julho de 2010

SBSR'10 - Diário de dia 18


Depois de um par de horas de sono e de uma praia bem retemperadora nas areias de Sesimbra, era hora de avançar para o Meco de forma a aproveitar o cartaz de dia 18 ao máximo. A curta viagem de 15 km desde Sesimbra transformou-se numa longa fila de trânsito e quando cheguei ao recinto por volta das 19h já os galeses Stereophonics debitavam de forma competente o seu britpop. Da meia hora que ouvi reconheci “Superman” e “Maybe Tomorrow”.

Depois de uma passagem pela área de alimentação seguiam-se os indies texanos Spoon. Os últimos dois álbuns da banda tinham sido do meu agrado e o penúltimo “Ga Ga Ga Ga Ga” até mereceu aqui uma referência. Apesar da qualidade e do empenho da banda de Austin o concerto acabou por arrefecer perante a indiferença do público e os hits “The Underdog”, “Don't Make Me a Target” ou “Written In Reverse” só aqueceram uma minoria conhecedora do percurso da banda, e que se encontrava maioritariamente junto às grades, na frente do palco.

Terminado o concerto dos Spoon chegava a hora de uma decisão difícil: The National ou Sharon Jones & the Dap Kings? A minha intuição puxava para os segundos, mas como o horário oficial dizia que os nova-iorquinos começavam 15 minutos antes resolvi dar-lhes uma oportunidade. Apesar de nos primeiros 20 minutos terem tocado várias das minhas canções favoritas, como: “Anyone’s Ghost”, “Bloodbuzz Ohio” e “Slow Show”, rapidamente percebi que a minha intuição estava certa: são banda para ser vista e ouvida num espaço mais intimista e num concerto em nome próprio, portanto lá fui a correr para o Palco EDP e em boa hora o fiz. Que grande concerto de Sharon Jones & the Dap Kings a que tive o prazer de assistir. Deles só conhecia o recente “I Learned the Hard Way” e o tema título do anterior “100 Days, 100 Night”, e se era suficiente para me fazer hesitar relativamente a The National, estaria longe de imaginar o que poderia ser em palco: uma electrizante viagem por quatro décadas de soul e funk conduzida por um furacão chamado Sharon Jones e a que ninguém no público conseguiu ficar indiferente. Sem dúvida um dos momentos altos do 16º Super Bock Super Rock.

Depois de uma breve passagem pela tenda electrónica onde Zé Salvador tocava o seu house cheio de groove, estava na hora de avançar para o palco Super Bock tentar arranjar o melhor local possível para ver aquele que para muitos era o momento mais esperado do SBSR: o concerto de Prince. Gosto bastante de funk, gosto bastante de muitas coisas de Prince, mas confesso que não tinha grandes expectativas relativamente ao concerto, sobretudo por aquilo que tem sido o percurso musical do génio de Minneapolis ao longo da última década e meia. E o concerto confirmou em parte, as minhas expectativas: uma actuação de uma estrela decadente; agarrada aos clichés de animal de palco; a usar e abusar dos solos de guitarra; e a encaixar de uma forma muito forçada, 10 minutos de fado cantados por uma Ana Moura com a voz abaixo de forma. Tudo isto muito bem disfarçado por um público extremamente receptivo e ávido de um grande concerto e por um conjunto de músicas enormes muito bem executadas, quase todas elas escritas e gravadas nas décadas de 80 e 90.

Com grande pena minha, acabei por abdicar do concerto de John Buttler Trio por coincidir na íntegra com o de Prince. Assim sendo chegava novamente a hora de ir para a tenda electrónica, onde Rui Vargas e André Cascais aqueciam, com o habitual requinte de bom gosto, o ambiente para aquele que para mim era um dos momentos mais aguardados do festival: o concerto de Laurent Garnier. Enquanto DJ é o meu favorito, tanto pelo seu ecletismo, como pela forma natural como encaixa as sonoridades mais dispares. É adepto de sets bem longos onde viaja pelos vários sub-géneros da electrónica sem enjeitar pontualmente incursões por géneros como o rock, a bossa nova, etc. Como produtor o seu percurso foi construído no techno, mas “Tales of a Kleptomaniac”, o seu mais recente álbum, inclui incursões no dubstep, drum’n’bass, jazz e até afro-beat. O concerto com a sua banda de 5 músicos acabou por ser um reflexo do álbum, e se dois dos momentos mais altos da noite até foram os clássicos “The Man with the Red Face” e um fabulosamente renovado “Crispy Bacon”, músicas deste disco como “Gnanmankoudji”, “Pay TV” ou “Bourre Pif” também levaram uma tenda electrónica superlotada ao rubro. Era um dos momentos mais esperados e foi também para mim o momento mais alto do SBSR’10. Como DJ ou em concerto, tragam-no a Portugal que eu estarei lá... sempre!

A terminar uma nota sobre a organização: o que salvou esta edição foi o talento, competência, empenho e profissionalismo dos músicos. O cartaz tinha qualidade apesar da forma incoerente como estava organizado, mas as infra-estruturas e condições envolvente deixam muito, mas muito a desejar. Sei que o SBSR tem contrato para a Herdade do Cabeço da Flauta para mais três edições pelo que urge resolver os graves problemas do pó e do trânsito. E num festival desta envergadura é uma vergonha que o som só esteja devidamente afinado no terceiro dia.

2 comentários:

Soundealer disse...

Não trocaria o concerto dos The National por (quase) nada, mas é verdade que tive algumas vezes pena de não ser omnipresente. É verdade que houve pó e confusão, mas sinceramente, acho um detalhe comparado com o excelente cartaz. Já a qualidadade do som, concordo plenamente contigo, é uma prioridade a resolver.

Mlle_Carla

João Nunes disse...

Não foi uma decisão fácil, mas em boa hora arranquei par ao palco EDP. A Sharon Jones é grande! O festival foi muito bom ao nível de prestações e muito mau ao nível de condições.